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9 de fevereiro de 2011

                                                   Meus vizinhos
              Aprendi desde a infância a não dar atenção aos barulhos que vem da casa dos vizinhos.
              Vizinho é sagrado e deve-se ignorar todos seus movimentos, mesmo que teimem em  chamar a atenção de uma forma insistente.
             Por mais de um ano de uma maneira indiscreta  e por vezes encantada assisti a  construção de uma residência em frente a minha janela. Impossível não olhar , às vezes até utilizando algum disfarce para não ser percebida, pois meus vizinhos poderiam não gostar. Sabem como é, em primeiro lugar a política da boa vizinhança.
             Passados alguns meses de trabalho árduo, eis que os proprietários da obra somem.  Não ouço mais barulho nenhum. Pensei até na hipótese da prefeitura ter interditado a obra ou ter dado zebra no financiamento. E os meses passaram; Pensei que tivessem desistido.
            Me enganei. Certo dia retornam ao trabalho com a maior alegria em uma correria alucinada. Modificaram a porta principal, que era para o oeste e viraram para o leste. O formato da porta  também, ficou tipo meia-lua. Muito bonito, por sinal. Não os vi conferindo plantas nem ao mesmo fazendo cálculos de engenharia.
      Só a chegada de mais e mais materiais de construção.  Trabalho árduo, de sol a sol, de chuva a chuva.
     E eis que chega o dia da inauguração, que festança. E eu espiando,que coisa feia.
     Descobri que trabalham em dupla e se um atrasa o outro insistentemente o chama. São muito unidos os  meus vizinhos. Desconfio que vem filhote por ai...
     Pois é... Bem em frente a minha janela a natureza me deu a oportunidade de assitir a um trabalho que considerei um dos mais lindos já vistos em minha vida.
     Meus vizinhos barulhentos, incrivelmente alegres e trabalhadores são pássaros conhecidos como  joão-de-barro ou forneiro. Também  conhecidos por seu característico ninho de barro em forma de forno. É a ave símbolo da Argentina, onde é chamado de hornero “Ave de la Patria”.
      Estou tendo o prazer de vizinhar com eles que me presenteiam com seu canto e me chamam a atenção o dia todo.
     Trabalharam duro. Construiram sua casa bem em cima de um poste, em um local sem árvores, onde a natureza não tem representantes. Talvez para não deixar que a selva de pedra tome conta  deste local. Marcaram presença e seu canto poderá ser até um protesto como se dissessem: Estamos aqui e não abriremos nosso espaço.
    Sei que irão embora, e virão outros, com novas reformas ou construções.
    Pena que nem todas as pessoas possam sentir o prazer de ter uma morada digna, de fazer sua construção, de abrigar seus filhos e cantar sua felicidade como o joão-de-barro. Pena...

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