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4 de novembro de 2010

                               
                        A estória de Josué
      Após a aposentadoria do Defensor Público, nossa cidade ficou por algum tempo sem substituto.  Como eram inúmeros atendimentos a pessoas sem posses e por saber da imensa falta que um pai faz na vida de uma criança, criei um projeto neste sentido a funcionar somente no mês de outubro, mês dedicado à criança.
       Surgiram vários casos de paternidade, os quais me orgulho em ter atendido.
      Um desses casos era um pequeno menino, na época com seis anos de idade, espertíssimo e inteligente, o qual particularmente me chamou a atenção. Era o menino Josué. Contou-me sua estória a qual me interessou muito. Havia descoberto que seu pai registral não era seu genitor e gostaria muito de conhecer seu pai verdadeiro. Apesar disto, gostava muito deste pai e não gostaria de perdê-lo. Pedi então que me trouxesse sua mãe, o que ocorreu.
    Aquela velha estória de ter tido um namorico e engravidou. Para que a família não descobrisse casou com seu melhor amigo, o que ela confessa que errou mesmo tendo o amigo aceito a situação, dando amor e carinho necessário a uma criança. Como uma mentira não se sustenta por muitos anos, acabou contando a verdade para Josué.
    Após idas e vindas, conseguimos descobrir por onde andava o suposto pai. Teria que requerer investigação de paternidade, anulação de registro e alimentos. Seria necessário que os dois pais fizessem DNA, o que ocorreu, comprovando a veracidade de sua estória.
   A ansiedade de Josué aumentava a medida que eram marcadas audiências e quando vinha um pai, o outro não aparecia.
  Finalmente o mês de agosto foi triunfal para Josué que, ouvido em juízo encantou o magistrado, o promotor de justiça e demais pessoas presentes com sua estória. Explicou ao magistrado o que desejava, qual seu sonho e teve finalmente sua verdadeira paternidade reconhecida. Terminada a audiência, o novo pai, encantado com um filho que até então não sabia da existência, foi embora abraçado ao mesmo entre lágrimas.
   Josué resolveu o problema de sua vida e saiu ganhando: com sua verdadeira paternidade reconhecida e com outro pai, do coração, com o qual ele tem certeza que será seu amigão para o resto da vida.
  E eu fiquei ali parada, olhando os autores deste fato partirem com uma satisfação imensa e uma emoção muito grande voltando ao meu local de trabalho pensando em quantas Marias e quantos Josués devem existir por aí, porém sem a coragem deste menino pequenino que reconstruiu a sua estória: A  verdadeira estória de vida de Josué.
 
   

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