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7 de novembro de 2010

            As mães, os filhos e o crack
          Tenho recebido em meu escritório mães à procura de tratamento via judicial para seus filhos vítimas da drogadição. Interessante ressaltar que  nenhuma visita teve acompanhamento do pai, o que causa estranheza pois sabe-se que sozinhas elas não fizeram filhos. Cadê os pais?
        Essas mães guerreiras são em geral profissionais que tiveram de optar por trabalhar 8 horas diárias deixando seus filhos aos cuidados de pessoas nem sempre confiáveis, às vezes  a televisão, a internet, familiares.
       Triste e surpreendente a constatação de que muitos viciados são filhos de professoras, também vítimas de  governos que há anos optam pela não valorização do  profissional, fazendo com que tenham que trabalhar 40, 60 horas semanais para sustentar a casa, abandonando seus filhos.
      São heroínas essas mães na busca desesperada por uma solução para  o problema frente ao qual foram surpreendidas.   Dia desses, coincidentemente encontraram-se algumas no mesmo horário, momento no qual conversaram consolando-se mutuamente. Elas sabem da epidemia da droga, sabem onde ficam as clínicas especializadas para tratamento, sabem suas conseqüências e temem pela vida de seus filhos. Fiquei a observar e testemunhei o tamanho da força que elas possuem  em suas mãos.
       Algumas têm vergonha de aparecer, de gritar por socorro pelo filho doente. Mas é necessário. Essas mães não estão ainda conscientes de sua força,  elas sabem que é chegada a hora de fazer algum movimento para que seus filhos não venham a sofrer danos irreversíveis ou talvez, a própria vida. Se não tomarem atitude não adianta mais tarde se transformarem em mães “da praça de maio”.  
      Uma mãe sabe de sua força. É uma trincheira, uma rocha. Sabe também que, neste caso não deve ter vergonha de mostrar a cara, pois juntas terão força para procurar a solução. Todas sabem onde estão as “formigas” do crack, quem está com os objetos de sua casa, suas roupas, produtos alimentícios, até o cão da família, que foram trocados pela droga, mas tem medo de denunciar.
      Unam-se, formem um exército, procurem as autoridades, conte tudo o que sabem e peçam proteção. Não se envergonhem. Seus filhos estão doentes, muito doentes. Juntas irão fazer um movimento forte contra o inimigo que aí está vendendo uma droga barata que causa uma das maiores destruições na vida das pessoas.
    Vocês sabem que podem. É preciso coragem e mostrar a cara.   
    E sabem também a força que irão receber da sociedade.                

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